Críticas à Psicologia hegemônica


A psicologia hegemônica institucionalizada é a abordagem predominante da psicologia científica, ensinada em instituições e praticada profissionalmente. Suas principais características são a ênfase nos transtornos mentais a serem diagnosticados e tratados, o foco no indivíduo enquanto unidade de análise - seus comportamentos e cognição, e sua tendência em generalizar as teorias.

Segue abaixo algumas críticas a essa psicologia:

A psicologia não é neutra: sua prática interfere diretamente nos modos de vida das pessoas, sendo influenciada por fatores sociais, culturais, econômicos, políticos e ideológicos;

Monopólio do saber sobre as emoções: a psicologia se coloca como a única área legitimada, juntamente com a psiquiatria, a promover saberes e intervenções sobre o sofrimento emocional - concentrando sua atuação e suas teorias restritas aos "especialistas" do campo psi;

Discurso com pretensão de verdade: as teorias em psicologia possuem uma pretensão de verdade sobre os seres humanos, suas atividades e seus afetos, promovendo um controle sobre a interioridade das pessoas - seus comportamentos, emoções e subjetividade;

Estabelecimento do "normal": a psicologia atua mantendo os valores morais, servindo a um ajustamento social, sustentado por termos como "normal", "adequado", "ajustado" e "saudável";

Controle sutil da subjetividade: configuração, ajustamento, moldagem e policiamento da subjetividade a um modelo específico de vida, conforme os parâmetros de “normal” e “saudável” legitimados socialmente;

Classificações ideológicas e moralistas: as categorias de transtorno mental sustentam interesses morais, políticos e econômicos - quem é diagnosticado com transtorno é frequentemente entendido como o que é incapaz para o trabalho, para responder a comandos ou atividades em grupo;

Identificação e direcionamento: a psicologia se tornou, perigosamente, uma verdade sobre a interioridade do sujeito contemporâneo, seu discurso é aceito e legitimado socialmente, dizendo o que a pessoa é, e o que ela deve fazer para "conduzir" a sua vida e "melhorar" a si mesma;

Categorização do sofrimento emocional: o sofrimento emocional é percebido a partir de categorias de transtornos mentais, construídas por pesquisadores num certo momento e contexto, carregado de intuitos morais, ideológicos e políticos. A noção de "normalidade" e de "psicologicamente saudável" é uma construção que serve a interesses de controle social;

Patologização do sofrimento emocional: dificuldades emocionais, de convívio social ou comportamentos incomuns são percebidos como “transtornos mentais”, muitas vezes sem uma análise aprofundada dos fatores sociais e ambientais que podem gerar ou manter tais dificuldades;

Patologização das diferenças: cria narrativas de transtornos para descrever pessoas que se diferem do padrão do modo de vida numa sociedade neoliberal - as pessoas que fogem dos padrões considerados "normais" são percebidas e tratadas como portadoras de algum transtorno;

Inferiorização e estigmatização: as pessoas que não se enquadram os moldes socialmente aceitos são rotuladas e estigmatizadas, inclusive a grande maioria dos “psis” trata essas pessoas como inferiores e incapazes de decidir sobre suas próprias vidas, submetendo elas a seus discursos e teorias;

Manutenção do "status quo": por se colocar contra as diferenças, atua defendendo um modo de vida específico, mantendo a sociedade como está, sem espaço para a mudança ou a divergência;

Parte das teorias e não da experiência: entende o sofrimento a partir de teorias psicológicas que explicam a pessoa, e não da percepção da pessoa sobre si mesma;

Eurocentrismo: suas teorias são predominantemente eurocêntricas, negligenciando as diferenças culturais e contextuais na compreensão dos fenômenos psicológicos;

Relações de poder: relação de poder desigual entre psicólogos e pacientes, onde o psicólogo se coloca como um "guia" e "direcionador" da pessoa, ao nível subjetivo e singular, detendo um poder e autoridade significativos sobre o paciente, podendo gerar opressão e controle sutil (pouco visível);

Ignora complexidades e singularidades: evita e se distancia das complexidades e dos modos de existir que se diferem daqueles já estudados e teorizados, encaixando imediatamente em categorias diagnósticas e explicações nosológicas, enfraquecendo a compreensão das dificuldades e do sofrimento emocional;

Categorização e rotulação: tendência a categorizar e rotular comportamentos e experiências que não coadunam com os modos de ser "normal", especialmente aos são diferentes e excêntricos, que logo são tidos como "anormais" ou portadores de algum "transtorno";

Não questiona seu saber: a psicologia, de modo geral, não se questiona, mantendo uma blindagem a críticas, que a impede de problematizar suas noções tradicionais de “normalidade” e “anormalidade”, não as percebe enquanto produções discursivas de um certo momento, mas como verdades universais;

Moralidade e controle social: baseia-se em padrões morais e normativas sociais dominantes para definir o que é "normal" e o que é "patológico", sendo usada como uma ferramenta de controle social que patologiza e reprime as diferenças e dissidências;

Universalismo: tendência em generalizar suas teorias e achados para todas as pessoas, independente de suas culturas, grupos e épocas, desconsiderando a diversidade cultural e social;

Não questiona os sistemas diagnósticos: a validade e a utilidade dos sistemas diagnósticos utilizados na psicopatologia tradicional, como o DSM e CID muitas vezes não refletem a complexidade e a singularidade das experiências humanas.

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