Como é a Fenomenologia?

Fenomenologia é uma disposição para o entendimento de mundo, que busca descrever aquilo que aparece, do modo como aparece para quem aparece. Sua descrição não tem o intuito de interpretar, positivar ou objetivar o fenômeno, mas se aproximar do modo como é percebido e sentido. Trata-se de uma atitude para deixar ver o que se mostra, do modo como se apresenta, sem teorias prévias ou suposições.

Pode ser entendida como um método ou uma atitude, que visa tomar contato com as singularidades e peculiaridades de como o fenômeno é percebido, se propondo a colocar entre parênteses todos os pressupostos teóricos ou noções prévias sobre o que é percebido, pretendendo se aproximar do modo como algo é percebido num dado momento, para uma pessoa ou um grupo de pessoas.

"A reflexão fenomenológica vai em direção ao 'mundo da vida', ao mundo da vivência cotidiana imediata, no qual todos nós vivemos, temos aspirações e agimos, sentindo-nos ora satisfeitos e ora contrariados."
(Forghieri, em 'Psicologia Fenomenológica')

A fenomenologia costuma ser utilizada em diversas ciências humanas, como a psicologia, a sociologia, a geografia, antropologia, entre outras. Enquanto uma disposição para com o fenômeno, não busca interpretar o fenômeno, mas descrevê-lo, do modo como se apresenta. Sua prática busca tomar contato com a descrição de uma vivência ou experiência, visando compreender como é sentida e percebida.

O entendimento na fenomenologia não é apenas racional, mas acontece num entrelaçamento entre percepção, razão, emoção, sensação e afetos. Entende que nunca percebemos um fenômeno apenas no seu sentido racional, mas também, e muitas vezes prioritariamente, de maneira afetiva. Ao invés de tentar enquadrar as experiências em conceitos predefinidos, a fenomenologia busca descrevê-las tal como são percebidas e vivenciadas pela pessoa.

"Trata-se, na verdade, de um 'retorno', um caminho de volta, em que o 'fim' nada mais é do que o começo: 'de volta às coisas mesmas', para citar a tão famosa expressão husserliana. A fenomenologia é, portanto, o caminho de volta às coisas mesmas, ao mundo da experiência vivida ou Lebenswelt (mundo-da-vida)."
(Struchiner, em 'Fenomenologia: de volta ao mundo-da-vida')

A "epoché" é uma noção central para a fenomenologia, que se trata da suspensão temporária de nossos julgamentos e suposições sobre algo, permitindo um contato mais aproximado da experiência, do modo como é experienciada. Quando praticamos a epoché, deixamos de lado as teorias preexistentes que explicam um fenômeno para nos abrir a compreensão deste fenômeno singularmente, do modo como se apresenta para uma pessoa.

Para a fenomenologia, a percepção é sempre intencional, nossa consciência se dirige para as coisas no mundo, atribuindo sentidos e valores a eles. No entanto, nunca captamos um objeto ou situação em sua totalidade, mas apenas a partir de um determinado ângulo ou perspectiva. Portanto, a compreensão é sempre fragmentária, pessoal e parcial, e a fenomenológica tenta de capturar a essência de uma experiência a partir do ponto de vista do sujeito que a experiencia.

"A fenomenologia tem por objeto as coisas que se manifestam ou se mostram, tais como se manifestam os fenômenos; neste sentido, as coisas constituem aquilo que é rigorosamente dado, aquilo que eu encontro e que é, para mim, originalmente presente. (...) É a filosofia do inacabamento, do devir, do movimento constante, onde o vivido aparece e é sempre ponto de partida para se chegar a algo."
(Lima, em 'Ensaios sobre fenomenologia')

A fenomenologia surge na filosofia, no início do século XX, partindo de um questionamento com relação à ciência positivista e à filosofia idealista, criticando o uso do método das ciências naturais nas ciências humanas. Deste modo, pode ser entendida como um contraponto as tendências mais comumente utilizadas ainda hoje, pois liberta o entendimento do fenômeno de suas interpretações e teorizações sobre ele, se aproximando do modo como experienciamos o mundo, as relações e a nós mesmos.

Na prática, a fenomenologia busca retornar às experiências pré-reflexivas e antepredicativas, antes que sejam configuradas por teorias ou conceitos, num esforço para retomar os sentidos das experiências tal como são vivenciadas por uma pessoa. Entre os principais pensadores em fenomenologia estão Edmund Husserl (1859-1938), Martin Heidegger (1889-1976), Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961).

"(...) os filósofos tradicionais costumavam começar por teorias ou axiomas abstratos, mas os fenomenólogos alemães iam direto à vida como a viviam a cada momento."
(Bakewell, em 'No café existencialista')

O foco da fenomenologia está para o mundo vivido e experienciado, em oposição à abordagem objetivista da ciência positivista e a idealista da metafísica. Em vez de tentar explicar objetivamente as experiências humanas, a fenomenologia valoriza a singularidade de cada indivíduo, reconhecendo que a vida é sentida de maneiras diferentes por cada pessoa. Em resumo, a fenomenologia é uma abordagem que busca compreender as experiências humanas em sua forma mais imediata, sem serem filtradas por teorias ou conceitos predefinidos.

"A palavra 'fenomenologia' significa 'o estudo dos fenômenos', onde a noção de um fenômeno e a noção de experiência, de um modo geral, coincidem. Portanto, prestar atenção à experiência em vez de àquilo que é experienciado é prestar atenção aos fenômenos."
(Cerbone, em 'Fenomenologia')


Referências:
BAKEWELL, Sarah. No café existencialista. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.
CERBONE, David. Fenomenologia. Petrópolis: Vozes, 2014.
FORGHIERI, Yolanda. Psicologia Fenomenológica: fundamentos, método e pesquisas. São Paulo: Cengage Learning, 2019.
LIMA, Antônio Balbino, org. Ensaios sobre fenomenologia: Husserl, Heidegger e Merleau-Ponty. Ilhéus, BA: Editus, 2014.
STRUCHINER, Cinthia Dutra. Fenomenologia: de volta ao mundo-da-vida. Rev. abordagem gestalt., Goiânia, v. 13, n. 2, p. 241-246, dez. 2007.

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