A perspectiva crítica coloca em questão estruturas de poder, as influências ideológicas, as verdades estabelecidas e as tendências de controle dispostas na sociedade, buscando entender como o conhecimento, as instituições e as práticas culturais são construídas e mantidas, bem como quem se beneficia ou é prejudicado por tais estruturas.
Essa perspectiva se relaciona com as ciências sociais, com o marxismo e com outras formas de pensamento crítico que colocam em questão as ideias dominantes, revelando como as ideologias influenciam a produção e disseminação do conhecimento. Ao invés de aceitar passivamente as ideias estabelecidas, a perspectiva crítica problematiza os sistemas de pensamento e práticas sociais.
A perspectiva crítica lança um olhar histórico e reflexivo para as teorias e práticas, entendendo que toda teoria é criada por seres humanos inseridos num contexto cultural, político e ideológico, com interesses específicos. Entendendo que não se separa a produção de conhecimento do contexto onde é produzido, busca entender as teorias a partir da realidade onde surgem as ideias, examinando sua constituição histórica e seu contexto sócio-cultural.
Na atualidade, a perspectiva critica problematiza os conhecimentos e práticas, examinando como os interesses econômicos, as ideologias e as relações de poder influenciam teorias e práticas, desafiando as narrativas dominantes e questionando as estruturas de poder em favor de uma emancipação intelectual e social. Algumas de suas características são:
- Estudo histórico e contextual: estudo das condições históricas, sociais, culturais, econômicas e políticas para a criação e manutenção das teorias e atuações práticas;
- Análise das relações de poder: investigação das formas como o poder é exercido e mantido, quem se beneficia e quem é prejudicado pelas relações de poder, e como elas configuram as experiências individuais e coletivas.
- Problematização das narrativas dominantes: coloca em questão as ideias e as narrativas dominantes que mantêm o status quo, por meio de uma análise cuidadosa das estruturas de poder e das formas como elas configuram a percepção e o conhecimento.
- Reconhecimento das estruturas e interrelação: reconhece a interseccionalidade das opressões e das identidades sociais, levando em conta as maneiras como diferentes formas de opressão, como o racismo, o sexismo, a homofobia e a opressão de classe, se intersectam e se sobrepõem, criando experiências de marginalização complexas e multifacetadas.
- Relacionar teoria e prática: na perspectiva crítica, não se separa teoria e prática, como nas tendências tradicionais, entende-se que há uma tensão entre os saberes e a situação concreta onde e como nos encontramos.
- Ênfase na emancipação e na transformação social: um dos intuitos centrais da perspectiva crítica é a emancipação intelectual e social, que envolve não apenas a crítica das estruturas de poder existentes, mas também o trabalho ativo para transformar essas estruturas.
Não há um caminho estabelecido para fazer crítica, o pensamento crítico é uma capacidade para questionar nossas "verdades" e "entendimentos". A atitude crítica consiste numa permanente reflexão acerca do que sabemos e do que pensamos, sendo um esforço contínuo e nunca concluído. A crítica não é um conteúdo estático, mas um processo que desestabiliza o solo onde pisamos, enfrentando nossos próprios preconceitos.
Colocar em prática o pensamento crítico consiste em questionar não somente as "verdades" estabelecidas, como também os fundamentos que mantém essas "verdades", toda a trama de interesses políticos e ideológicos, contexto cultural e histórico, enfim diversas condições que sustentam e mantém tais "verdades". É difícil perceber criticamente nossas próprias ideias e crenças, pois justamente muitas vezes nem conseguimos identificá-las.
Na psicologia, a perspectiva crítica analisa os processos psicológicos, as teorias e práticas terapêuticas por uma lente crítica e reflexiva, colocando em questão as suposições e pressupostos das teorias psicológicas, bem como as implicações éticas, sociais e políticas das práticas psicológicas, trabalhando para a construção de saberes e práticas mais éticos e socialmente responsáveis na psicologia.
A perspectiva crítica propõe uma avaliação reflexiva e crítica da sociedade e da cultura, revelando suas estruturas de poder, entendendo os problemas sociais e psíquicos como, na maioria, resultantes das estruturas sociais. Critica e contraria as tendências cartesianas e positivistas de conhecimento, relacionando saberes como a geografia, a história, a economia, a sociologia, a ciência política, a antropologia e a psicologia.
De modo geral, a perspectiva crítica oferece ferramentas para analisar os fundamentos históricos e ideológicos das teorias científicas, bem como seus impactos nas estruturas de poder. Seu objetivo não é apenas criticar, mas também propor alternativas construtivas e emancipatórias para os indivíduos e a sociedade como um todo.