O nada em Sartre e Heidegger

O conceito de "nada" é central tanto na filosofia de Jean-Paul Sartre quanto na de Martin Heidegger, porém com nuances e implicações distintas. Ambos os filósofos o utilizam como um ponto de partida para investigar a existência humana e a relação do indivíduo com o mundo.

Para Sartre, o nada não é simplesmente uma ausência de ser, mas uma possibilidade constante de não ser. Trata-se da consciência da própria finitude e da liberdade que acompanha essa consciência. O indivíduo, ao se projetar para o futuro, se torna consciente das possibilidades que não escolheu, dos caminhos não percorridos. Essa consciência do nada é o que constitui a angústia, um sentimento fundamental da condição humana.

"O homem é o ser pelo qual o nada vem ao mundo."
(Sartre, em O Ser e o Nada)

O ser humano, para Sartre, é um ser-em-si-para-si. O ser-para-si é consciente de si e do mundo. Essa consciência é sempre uma consciência de não ser algo, de não estar fixo numa essência determinada. A má-fé é uma tentativa de evitar a liberdade e a responsabilidade que emerge da consciência do nada, ao negar a própria liberdade, o indivíduo se aliena e tenta se reduzir a um objeto, a um ser-em-si.

Heidegger, por sua vez, aborda o nada de maneira mais ontológica, como uma condição fundamental da existência. O nada não é uma simples negação, mas a possibilidade de questionar o ser e se voltar para ele. A angústia é a abertura para o nada, uma experiência da finitude que nos impulsiona a buscar o sentido da existência.

"O nada não é o simples oposto do ser; ele pertence originariamente ao ser."
(Heidegger, em O que é Metafísica?)

O ser humano, para Heidegger, é um ser-aí, lançado no mundo e sempre em relação. A angústia revela a finitude do ser-aí e a possibilidade da morte, o que o impulsiona a buscar o sentido de sua existência. A questão do ser é a pergunta fundamental da filosofia, que possibilita ir além das aparências e das coisas individuais para alcançar um sentido mais profundo da existência.

Tanto Sartre quanto Heidegger encaram o nada como uma possibilidade que constitui a existência humana. Para Sartre, o nada está mais relacionado à liberdade, escolha e responsabilidade; enquanto para Heidegger, ele está mais relacionado à finitude, abertura para o ser e possibilidade de questionar o ser. Ambos os filósofos consideram o nada como uma condição fundamental da existência humana.


Referências:
HEIDEGGER, Martin. Que é Metafísica? Tradução de Emmanuel Carneiro Leão. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Coleção Os Pensadores).
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2012.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: Ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 2015.

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