A psicologia dita cientifica têm feito cada vez mais que as pessoas se sintam mal por serem como são, do que auxiliado para lidarem com suas dificuldades, em especial quando seus modos de ser não convergem com a normativa do que é tido como "adequado" e "correto".
Essa tendência à normalização e ao estabelecimento de padrões e modelos do que seja saudável e adequado, em oposição ao que é doentio ou inadequado, colocou a diferença a parte, patologizando os modos de ser que fogem dos padrões de "saudável" e "adequado".
Termos como "ajuste", "maturidade" e "normal" não são usados apenas como medidas de verificação do sofrimento emocional, mas sobretudo como prerrogativas morais que propõem modos de ser e de se portar diante na relação com os outros e consigo mesmo.
Muitas delas são arbitrárias, como quando se diz que uma pessoa é imatura por colecionar gibis ou por jogar video-game, inferiorizando e colocando seu modo de ser como algo que deve ser ajustado, mas não questiona sobre a pessoa que pratica corrida de carros, pois seria uma atitude de "adulto".
Creio ser preciso questionar os critérios utilizados para manter uma convicção e pautar o seja "normal" ou "adequado", como devemos agir para sermos "saudáveis" ou "maduros". Essa padronização opera mais por tendências morais do que sobre o sofrimento da pessoa, com intuito de manter a pessoa no esquadro.
Grande parte das teorias em psicologia propõem formas de ajustamentos, partindo sempre de uma noção prévia do que seja adequado ou inadequado, operando uma espécie de "correção" dos comportamentos e das emoções, direcionando a pessoa a um modelo que se supõe "correto", "normal" e "saudável", sem questionar sobre esse modelo.
Por isso, acredito ser urgente questionar esses pressupostos, colocar em dúvida aquilo que nos parece resolvido, o que temos por "normal" e "anormal", bem como o "saudável" e o "patológico", para que assim possamos pensar numa prática que, ao invés de extinguir as diferenças, possamos nos abrir a elas.