Segundo Nietzsche, a "moral dos fortes" e a "moral dos fracos", ou moral dos senhores e dos escravos, consistem diferentes modos de avaliar e valorizar a vida, de se posicionar e fazer escolhas. Essa distinção é central em sua filosofia, destacada especialmente em "Genealogia da Moral" e "Além do Bem e do Mal".
A moral dos fortes, ou "moral dos senhores", é caracterizada pela afirmação da vida tal como esta se apresenta, em sua beleza e feiura, harmonia e desarmonia, ordem e caos. O forte reconhece e celebra sua força, potência e criatividade, se colocando ativamente na vida, fazendo escolhas e decidindo por si.
Nietzsche encara o forte como um ser ativo que cria valores de acordo com sua própria vontade e vive sem a necessidade de uma aprovação ou validação externa. Para ele, forte é aquele que afirma a vida em sua totalidade, incluindo o sofrimento, a dor e os desafios, encarando estes como condições próprias da vida.
O forte vive de maneira afirmativa, autônoma e criadora, se guiando pela vontade de criar, de expandir e de ampliar possibilidades de vida, exercendo sua liberdade para se transformar. Seu intuito não é alcançar um ideal de vida, uma verdade última ou um prazer, nem evitar o desprazer, mas experimentar a vida como se apresenta, sem ideais.
"O nobre tipo de homem sente a si mesmo como determinador de valores; não necessita de aprovação; julga que ‘o que é prejudicial para mim é prejudicial em si’, sabe-se como aquele que dá o primeiro valor às coisas, cria valores."
(Genealogia da Moral, Primeira Dissertação, §10)
Deste modo, o forte valoriza tudo aquilo que amplia sua possibilidade de agir, que faz aumentar sua potência e atividade. Sua avaliação é baseada no "bom" e no "ruim", onde "bom" é aquilo que representa força, saúde, alegria e vitalidade, e "ruim" é aquilo que vai contra esses valores, que leva à fraqueza, inferioridade, bloqueio e diminuição de vida.
O forte faz escolhas que refletem sua vontade de potência, não age em busca de aprovação alheia, mas para concretizar seu querer, desafiando-se continuamente e superando seus próprios limites. Não busca uma vida ideal, uma condição de paz, prazer, tranquilidade ou a evitação de situações ruins, o que prioriza é justamente a experiência do modo como acontece.
A moral dos fracos, ou "moral dos escravos", surge como uma oposição à moral do forte. Para Nietzsche, os fracos são aqueles que, sentindo-se incapazes de criar e fazer coisas por si mesmos, se colocam como que impotentes e inferiores, e estabelecem valores contrários aos dos fortes para justificar sua impotência.
Essa moral fraca é marcada pelo ressentimento, rejeitando e demonizando tudo o que representa a vitalidade e a potência dos fortes. Como resposta à potência e à criação de valores pelos fortes, os fracos criam uma moral baseada na "resignação", na "bondade", "humildade", e "igualdade", buscando assim enfraquecer os fortes.
"O homem fraco é dominado por ressentimento e transforma sua própria incapacidade de ação em virtude. Chama de 'bondade' sua inércia e passividade, o que não passa de medo do confronto."
(Genealogia da Moral, Primeira Dissertação, §14)
O fraco vive de maneira reativa, negando tudo aquilo que não consegue alcançar. Sua vida é governada pela obediência, submissão e pela busca por segurança e estabilidade, sempre evitando os riscos e desafios da vida. Para eles, o "bom" é aquilo que protege, que é seguro. O "mau" é o forte, o diferente, aquele que se diferencia de sua moral.
As qualidades dos fortes são vistas como pecaminosas e erradas pelo fraco, que faz suas escolhas para se preservar e manter o que considera moralmente correto, em vez de buscar o que deseja e quer. Se guia por uma moral e não por suas forças, evitando sempre o confronto e o conflito, preferindo a conformidade e a estabilidade.
O forte vive afirmativamente, cria seus próprios valores de maneira ativa, buscando a expansão de sua existência, reconhecendo a vida em suas distintas dimensões, sejam estas boas ou ruins, certas ou erradas, verdadeiras ou falsas. Enquanto o fraco vive de forma reativa, dependente dos valores alheios, buscando sempre a aprovação e autopreservação, valorizando a segurança e a conformidade.
Essa diferença entre os modos de vida reflete o modo como encaramos e nos colocamos diante do mundo: o forte busca a autoafirmação e superação, enquanto o fraco busca os ideais e a paz, tentando limitar e controlar o poder alheio para justificar sua própria impotência, transformando sua impotência em virtude.