Cartografia: mapas e rizoma

Cartografia é um procedimento de análise que privilegia a produção de mapas abertos, processuais e rizomáticos, contrariando os modelos fixos e representacionais. Pode ser pensada em relação aos conceitos de rizoma, máquinas desejantes, agenciamentos, desterritorialização e corpo sem órgãos, apresentados em obras como "O Anti-Édipo" (1972) e "Mil Platôs" (1980).

A noção de cartografia em Deleuze e Guattari visa mapear os modos de vida, os processos e os movimentos dos desejos e afetos. Toma como fundamento a lógica do rizoma, que não busca um centro ou uma unidade, mas acompanhar processos e possibilitar deslocamentos para o complexo heterogêneo de fluxos e movimentos em pessoas ou grupos.

A cartografia não segue estruturas hierárquicas, mas conexões múltiplas e não-lineares. Não há um centro ou uma origem fixa, mas multiplicidades num mapa aberto, conectável e experimental. A realidade é entendida como processos de composição (agenciamentos) e transformação contínua (devir). O desejo não é falta, mas uma força produtiva que cria realidades.

Rizoma é um modelo de pensamento que se opõe às estruturas hierárquicas (como o esquema arbóreo), que se compõe por meio de conexões múltiplas, horizontais e não-lineares, elementos heterogêneos não-totalizáveis. Enfatiza os processos de transformação continua em vez de uma unidade fixa, bem como os arranjos provisórios de elementos diversos, numa rede descentralizada e conectiva.

Os processos rizomáticos não são hierárquicos, havendo sempre múltiplas saídas possíveis (linhas de fuga). Nunca há um lugar a ser alcançado como fim, mas um constante fluxo de multiplicidades, dando importância aos movimentos. Trata-se de uma análise dos fluxos, intensidades e afetos num nível pré-individual, onde o pensamento não representa, mas experimenta e cria.
 

Características da Cartografia

  • Mapa aberto e conectável: o mapa é desmontável, reversível e suscetível a modificações constantes.
  • Foco nos processos: não busca representar imagens ou formas, mas acompanhar processos e compor novas conexões.
  • Experimentação e variação: abandona a interpretação e a busca por uma unidade para dar lugar à experimentação e variações.
  • Filosofia da Diferença: a crítica de Deleuze e Guattari ao pensamento representacional e hierárquico propõe uma filosofia da diferença, movimento e experimentação.
     

Papel do Cartógrafo

  • Acompanhamento de processos: o cartógrafo se atenta aos movimentos e intensidades, visando acompanhar processos e tomar contato com a experiência em sua dimensão criadora.
  • Transversalidade: opera numa transversalidade, valorizando as tramas para a criação de outros modos de existir.
  • Análise de atravessamentos: analisa os atravessamentos descontínuos e o funcionamento complexo do que está fora da hierarquia ou das semelhanças.
     

Intuitos da Cartografia

  • Compor com a diferença: busca compor novas configurações de vida com a diferença, para que o desejo possa fluir e experimentar novos movimentos.
  • Destotalizar o "eu": abrir a subjetividade para fluxos, processos, multiplicidades, deixando de conceber como uma unidade fechada, mas como um campo de movimentos em tensão.
  • Experimentação: criar espaço para a experimentação, para o devir, para modos de existir não submetidas à lógica da identidade e da representação.
  • Criação de mapas: produção de mapas abertos, processuais, criativos e conectáveis, atento às relações de força, num campo aberto, conectivo e experimental.

 
Referências:
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. Trad. de: Luiz Orlandi. São Paulo: Ed. 34, 2010.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 1. Trad.: Aurélio Guerra Neto e Celia Pinto Costa. São Paulo: Ed. 34, 1995.

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