Pós-estruturalismo não é um movimento filosófico unificado, mas um modo de pensar que se desenvolveu sobretudo a partir da década de 1960, influenciando não apenas a filosofia, mas também a literatura, a política, a arte, a crítica cultural e as ciências humanas em geral. Entre seus principais representantes estão Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jacques Derrida e Jean-François Lyotard, que, cada qual à sua maneira, problematizaram os fundamentos do pensamento ocidental em suas pretensões de verdade, identidade e estabilidade.
Essa vertente parte da crítica ao estruturalismo, corrente que analisava os fenômenos culturais e sociais a partir das estruturas subjacentes de relações e significados, concebidas como sistemas relativamente fixos de significação. Os pós-estruturalistas mantêm a ênfase na linguagem e nos sistemas de sentido, mas rejeitam a ideia de que existam estruturas estáveis, universais ou definitivas. Para eles, a linguagem e os significados são sempre instáveis, contextuais e mutáveis.
“O pós-estruturalismo é uma total ruptura de nosso senso seguro do significado e referência na linguagem, de nosso entendimento, de nossos sentidos e das artes.”(James Williams, em 'Pós-Estruturalismo')
O pós-estruturalismo pode ser entendido como uma ruptura com as noções de estabilidade do sentido. Em vez de buscar uma verdade última ou universal, sustenta que o conhecimento é sempre parcial, provisório e situado. O que entendemos por verdade é efeito de discursos, práticas e relações de poder, e não correspondência objetiva entre linguagem e realidade. Daí sua crítica às verdades fixas e aos valores estabelecidos.
De modo geral, os pensadores associados ao pós-estruturalismo questionam todas as formas de saber que se apresentam como universais, essenciais ou definitivas. Códigos morais, teorias científicas, tradições de pensamento ou doutrinas filosóficas carregam, segundo eles, uma “violência oculta”, ao pretenderem impor à vida uma ordem fixa, totalizante e permanente.
“Ele [o pós-estruturalismo] alerta contra a violência, às vezes ostensiva, às vezes oculta, de valores estabelecidos como uma moral estabelecida, um cânone artístico ou uma estrutura legal fixada.”(James Williams, em 'Pós-Estruturalismo')
Assim, o pós-estruturalismo se aproxima de uma prática crítica e criativa, voltada para a abertura, a diferença e a possibilidade de transformação contínua. Não se trata apenas de negar o que existe, mas de compor novas formas de pensamento e de vida, estabelecendo uma relação entre filosofia e invenção.
Autores como Derrida, Deleuze e Foucault argumentaram que a linguagem não possui um centro fixo, mas se constitui em redes abertas de significação, onde o sentido é sempre diferido, deslocado e instável. Derrida cunhou o termo "différance" para indicar esse processo interminável de adiamento do significado, além de propor a desconstrução, método que revela as instabilidades, exclusões e hierarquias ocultas nos textos e discursos, mostrando que o sentido nunca é fixo, mas sempre aberto ao jogo infinito da linguagem.
Foucault deslocou o foco das estruturas para as práticas históricas e contingentes de poder-saber, mostrando como discursos produzem verdades, sujeitos e modos de vida, em vez de refletirem uma ordem estável. Deleuze, por sua vez, destacou o caráter produtivo da diferença, defendendo que nada pode ser reduzido a uma essência ou identidade fixa. Lyotard enfatizou a crise das metanarrativas modernas — as grandes explicações totalizantes da história, da ciência e da sociedade.
“O pós-estruturalismo é constantemente revivido pela abertura ao novo (à pura diferença). É oposto a qualquer certeza absoluta.”(James Williams, em 'Pós-Estruturalismo')
O pós-estruturalismo também questiona a noção de que a ciência seja “neutra” ou “objetiva”. Reconhece que as formas de conhecimento científico estão situadas em contextos históricos e geográficos específicos, atravessadas por valores sociais, políticos e econômicos, além de interesses de poder. A ciência não é vista como o único caminho para o conhecimento da realidade, mas como um modo (entre outros) de produzir saberes, marcado por regimes de poder que determinam o que é aceito como verdadeiro em cada época.
A “verdade”, portanto, não é algo absoluto, único ou neutro, mas efeito de práticas discursivas, relações de poder e contextos históricos. Assim, a ciência deixa de ser a guardiã exclusiva da verdade e outras formas de saber — como a arte e a experiência estética — adquirem relevância. A arte, nesse contexto, aparece como um espaço privilegiado de criação, multiplicidade e resistência, capaz de explorar possibilidades não previstas pelas categorias fixas do pensamento científico ou moral.
Enquanto prática, o pós-estruturalismo é também político. Não se limita a interpretar o mundo, mas procura transformá-lo, propondo novas relações com o corpo, com a linguagem, com a história e com os espaços sociais. É herdeiro das revoltas culturais e políticas de Maio de 1968, nas quais a crítica à ordem estabelecida se combinava com a experimentação de novos modos de vida.
Em síntese, o pós-estruturalismo pode ser compreendido como um conjunto de experimentos filosóficos que buscam desfazer verdades fixas e abrir o pensamento ao imprevisível. Trata-se de uma filosofia da diferença e da multiplicidade, que nega qualquer centro transcendental e afirma a imanência da vida em seus fluxos e transformações. Em vez de oferecer respostas definitivas, propõe uma atitude de constante crítica, invenção e abertura ao distinto.