Apesar de ter formação em psicologia e trabalhado como professor acadêmico de psicologia, não atuo como psicólogo (no sentido institucional do termo) há alguns anos, mas como terapeuta. Não sigo um modelos fechados de análise e intervenção, prefiro trabalhar a partir das experiências de cada pessoa, utilizando como referenciais teóricos alguns psicólogos, mas sobretudo filósofos, sociólogos, antropólogos e artistas.
Quando concluí a graduação em psicologia, em 2005, nunca me identifiquei plenamente com o título de “psicólogo”. Ele me parecia carregado de uma posição de autoridade e poder que não corresponde ao tipo de relação que gosto de estabelecer. Desde que iniciei o curso, tive críticas à psicologia hegemônica e tradicional, que muitas vezes atua de forma normativa e disciplinar, como se fosse ciência "neutra" e portadora de "verdades" sobre o ser humano, o comportamento e as emoções.
O que me interessa, pelo contrário, é oferecer um espaço de cuidado que acolhe as diferenças e não reduz a vida em classificações ou diagnósticos. Esta disposição possibilita que a terapia seja mais aberta e aproximada das singularidades de cada pessoa. Não penso a terapia como um "tratamento", restrito ao campo da psicologia, mas como um processo de cuidado e acompanhamento do existir.
Me preocupa a posição que a ciência psicológica, os psicólogos e psicólogas adquiriram socialmente. De nada me interessa o "orgulho" que alguns profissionais desta demonstram apenas por serem "psicólogos", posando em fotos com jaleco branco, como se fossem "detentores de um saber" sobre as pessoas. Não defendo a psicologia enquanto instituição, pois em sua prática, muitas vezes atua como uma técnica de poder sobre as pessoas.
Por essas e outras questões, não tenho o menor interesse em ser visto ou identificado como "psicólogo", não quero ser percebido como uma pessoa que ocupa uma posição de "saber" sobre outras pessoas, sobretudo um saber que engendra uma forma sutil de controle sobre os modos de vida, exercendo poder de maneira discreta, quase imperceptível, se apresentando como um "tratamento".
Apesar de não gostar de ser percebido como psicólogo, por um tempo utilizei este título, atuei como "psicólogo" durante alguns anos. Mas, com o passar do tempo, ficou claro para mim que minha atuação vai além disso. Quando me apresento como terapeuta, deixo explícito meu compromisso com um acompanhamento que não trata as pessoas como “pacientes” a serem ajustados, mas como existências singulares em processo.
Essa diferença pode parecer sutil, mas é essencial: não estou diante de alguém para ler a partir de teorias ou aplicar técnicas sobre sua vida, mas para caminhar junto, ajudando a pensar e cuidar. Detalhe, não me coloco contra toda a psicologia, minhas críticas são especialmente com relação às tendências normativas, que se utilizam de uma noção de normalidade que suprime as diferenças singulares, atuando com um viés patologizante sobre quem é diferente da norma.
Minha critica é sobre a psicologia que diagnostica as pessoas com desordens e transtornos por se diferenciarem de um "padrão social"; que não se questiona; que é praticada por "especialistas", que estabelecem o "saudável" a partir de referências morais, patologizando aqueles que fogem aos modelos do que determinaram ser "adequado"; que nunca colocam em questão suas teorias, nem em dúvida os paradigmas de saúde mental que utilizam para classificar seus pacientes.
Também não me identifico com os psicólogos que tentam parecer "professores da vida", que acreditam terem encontrado as "verdades" sobre como as pessoas devem agir e se comportar em cada situação e sobre como devem se relacionar; estabelecendo o "saudável" e "doentio", o "bom" e o "ruim", o "correto" e o "inadequado". Acho isso tudo muito pretensioso e ignorante, pois ignora as diferenças de cada um, seus distintos modos de vida, disposições e experiências.
Por isso, escolhi utilizar o termo "terapeuta", ao invés de psicólogo, no sentido daquele que busca cuidar e acompanhar (não tratar) a existência de uma pessoa e suas relações, considerando suas experiências de vida, sua história, seu contexto e suas diferenças singulares. Esse posicionamento contraria a psicologia hegemônica, que busca identificar e diagnosticar, em favor das diferenças de cada um.
Enquanto terapeuta, não me limito à ideia de que tudo seja meramente "psicológico" numa pessoa. Busco compreender cada pessoa em sua relação múltipla e multifacetada com as outras pessoas, os lugares e suas experiências, em constante processo e transformação. Aliás, a cada encontro terapêutico tomo contato com múltiplas dimensões de seus modos de vida e percorremos transformações possíveis.
Inclusive, prefiro ser percebido e entendido como terapeuta filosófico. “Terapeuta”, no sentido de me dispor ao cuidado com a existência de outra pessoa, caminhando ao lado e acompanhando. E “filosófico”, pois meu trabalho se sustenta em perguntas e reflexões, e não em teorias prontas sobre como cada pessoa funciona ou o que deve ser feito em cada situação.
Esse modo de trabalhar abre espaço para olhar cada pessoa em sua singularidade, com seus afetos, interesses, experiências, pensamentos, relações, questões, dilemas, dificuldades e potências. O termo "terapia" significa, literalmente, ajudar e cuidar. Terapeuta é um profissional que presta cuidados a uma pessoa que busca auxílio para lidar com suas questões existenciais. O intuito da terapia é disponibilizar acolhimento e suporte para atravessar questões próprias da vida.
Por fim, o que ofereço é um espaço de apoio e cuidado para quem atravessa dilemas ou situações difíceis, mas também um espaço para o pensamento e a experimentação de novos caminhos de vida. Um lugar onde não há julgamentos nem enquadramentos, mas abertura para pensar e experimentar outros modos de existir.
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