A terapia filosófica é uma disposição terapêutica diferente das terapias tradicionais centradas na psiquê, na personalidade e no diagnóstico clínico. Trata-se de uma prática que reconhece a complexidade da existência em seus múltiplos processos que se entrelaçam. Em vez de utilizar teorias prévias ou conduzir a pessoa a um lugar determinado, oferece uma escuta e cuidado atento às singularidades de cada um.
Nesta terapêutica o espaço é aberto para que a pessoa fale sobre o que sente, pensa, vive e acredita, sem receio de julgamentos, interpretações, diagnósticos ou correções. Esta prática não busca decifrar uma pessoa ou explicar seus comportamentos, mas escutar com profundidade, acolher suas questões, buscando se aproximar de sua experiência, mas sem se restringir a ela, ampliando para outras perspectivas possíveis.
O terapeuta não atua como detentor de saberes ou respostas, como se soubesse o que é melhor para a pessoa, mas se coloca como um companheiro de pensamento e caminhada, que dialoga, lança perguntas e abre caminhos de reflexão, rompendo a hierarquia tradicional entre terapeuta e paciente. Não se coloca como superior, não interpreta a pessoa a partir de categorias psicológicas, nem a reduz seus modos de vida a quadros clínicos.
Cada pessoa é percebida em sua singularidade, reconhecendo seus modos peculiares de viver e se colocar no mundo. A terapêutica se faz no encontro, se configurando de acordo com cada situação e necessidades, se transformando a cada dia. Não há respostas prévias, nem soluções prontas, as saídas não preexistem ao processo, mas se constroem na travessia compartilhada.
O terapeuta filosófico observa, escuta, pergunta, reconhecendo que só pode compreender aquilo que lhe é possível perceber naquele momento. Não tenta encaixar a pessoa em teorias ou categorias, mas recebe o que a pessoa diz como uma expressão genuína de sua vivência, em seu sentimento legítimo. Por ocupar o lugar de não-saber, se abre à imprevisibilidade da experiência e mantém a humildade de quem nunca conclui.
"Quem dá conselhos a um homem doente adquire uma sensação de superioridade sobre ele, não importando se eles são acolhidos ou rejeitados. Por isso há doentes suscetíveis e orgulhosos que odeiam os conselheiros mais ainda que a doença."
(Nietzsche, em 'Humano, demasiado humano')
Essa prática convida a pessoa a se expressar livremente, elaborar suas próprias ideias e a se apropriar do que sente e pensa. A escuta acontece com atenção e sem pressa, num exercício de presença, diálogo e reflexão, onde o cuidado se dá no encontro, entre o dizer e o ouvir, entre o pensar e o sentir, entre o que permanece e o que se dissolve. Enfim, uma terapêutica viva, que se faz com a pessoa, e não sobre ela.
A terapia filosófica é um espaço de liberdade, onde cada pessoa pode entrar em contato com seus afetos, dilemas e questões, sem modelos pré-estabelecidos, experimentando caminhos singulares a partir de cada encontro. Algumas de suas principais características são:
- Escuta e acolhimento da singularidade
- Encontro e diálogo conjunto
- Postura de abertura e não-saber
- Diálogo disponível e reflexivo
- Abordagem singular e personalizada
- Ausência de hierarquia na relação
- Escuta atenta e não-diretiva
- Foco no diálogo e reflexões
Enfim, um espaço de escuta sem julgamentos, diagnósticos ou correções, valorizando a expressão de cada pessoa, reconhecendo a complexidade da existência humana em seus distintos atravessamentos históricos, geográficos e subjetivos. Uma terapêutica se faz no encontro, se configurando conforme as necessidades de cada pessoa, sem o uso de fórmulas prontas ou soluções previamente definidas.
"Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo."
(Michel Foucault)
O terapeuta não se coloca como detentor de respostas ou como uma autoridade sobre o outro, mas como um companheiro de reflexão, oferecendo uma escuta atenta que respeita a singularidade e o que é dito, buscando ampliar perspectivas sem impor interpretações ou estabelecer uma explicação única, acolhendo a multiplicidade de modos de ser de cada um.
A terapia se faz no diálogo, onde o terapeuta busca se aproximar das experiências da pessoa, oferecendo um espaço seguro para compartilhar angústias, dilemas e afetos numa conversa sem julgamentos, onde os sofrimentos e os dilemas são entendidos como condições da existência, que merecem cuidado e atenção.