Foucault e sua filosofia

Michel Foucault é um dos filósofos mais importantes e influentes do século XX, que contrariou a filosofia tradicional em sua pretensão de encontrar verdades sobre as coisas e os seres. Ao invés de buscar verdades, sua filosofia se colocou a problematizar as verdades estabelecidas, colocando em questão os saberes ditos verdadeiros.

Seus estudos abrangem uma variedade de temas e áreas em relação, atravessando a filosofia, a história, o direito, a medicina, a psicologia, a arquitetura, as artes, a psiquiatria, entre outros. Buscou entender como as verdades são estabelecidas, entendendo estas sempre implicadas em relações de poder e em configurações históricas específicas, explorando os elementos implícitos nos saberes.

Didaticamente, sua obra costuma ser dividida em três períodos: Arqueologia dos Saberes, na década de 1960; Genealogia do Poder, na década de 1970; Sexualidade e Práticas de Si, na década de 1980. Seus estudos permeavam distintos saberes, relacionando temas e períodos, o que torna sua filosofia complexa e muito abrangente.

Foucault analisou as transformações históricas no entendimento e nas disposições para com a loucura e o louco, mostrando como as práticas psiquiátricas refletem as dinâmicas de poder e controle social. Ele criticou o modo como a sociedade define e lida com a loucura, argumentando que essas definições são socialmente construídas e usadas para marginalizar certos grupos de pessoas.

No período arqueológico, constatou a existência de condições históricas para a emergência dos saberes, entendendo que os saberes são constituídos a partir de configurações e disposições específicas da cultura e das relações de poder. Para Foucault, a ciência é influenciada pelas práticas sociais, culturais, religiosas, econômicas e pelos interesses de poder.

Como “arqueólogo dos saberes”, não procurou descrever a evolução linear das ciências, mas explorar como as diferentes condições históricas possibilitaram a emergência das "verdades científicas". Foucault utilizou o método arqueológico para estudar as condições históricas que possibilitaram a emergência de diferentes formas de saber.

Na década de 1970, Foucault passou a utilizar o método genealógico, inspirado em Friedrich Nietzsche, para analisar as relações de poder. A genealogia questiona as verdades estabelecidas, evidenciando as relações de poder que as sustentam e as contingências históricas que as tornaram possíveis, buscando entender como os saberes se desenvolvem a partir das práticas sociais e históricas, destacando as relações entre conhecimento e poder.

Ao invés de procurar uma origem única para as disposições de saber e poder, a genealogia constata múltiplas e dispersas origens dos conceitos e práticas, explorando as relações entre poder e saber. Para Foucault, o poder não é algo que uma pessoa possua, mas um processo que acontece na relação, não sendo apenas repressivo, mas também produtivo, influenciando e moldando comportamentos e modos de pensar.

Segundo o filósofo, entre a passagem do século XVIII para o XIX ocorre o surgimento de técnicas de poder disciplinar praticados por instituições como escolas, hospitais e fábricas, que atuam sobre os corpos, produzindo saberes e modos de vida, visando a docilidade e utilidade, disciplinando e controlando os indivíduos, entendendo o sujeito como resultante de práticas discursivas e relações de poder

Para Foucault, não existem relações de poder sem a produção de saberes, nem saberes que não constituam práticas de poder. Portanto, há uma relação intrínseca entre saber e poder. As ciências humanas emergiram no final do século XIX, no contexto do poder disciplinar, se utilizando da norma para o controle dos indivíduos: homogeneizando, hierarquizando e promovendo conformidade ao que é socialmente esperado, marginalizando os diferentes e anormais.

Seus estudos sobre a história da sexualidade, examinam o discurso sobre a sexualidade, seu uso como uma ferramenta de poder, entendendo a sexualidade como uma construção social e histórica, usada para disciplinar e controlar corpos e desejos. Em seus últimos trabalhos, se dedicou a questão da ética e estética da existência, explorando como os indivíduos podem construir suas próprias vidas e identidades de forma autônoma.


Referências:
CASTRO, Edgardo. Introdução a Foucault. Trad.: Beatriz de Almeida Magalhães. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2014.
DÍAZ, Esther. A filosofia de Michel Foucault. Trad.: Cesar Candiotto. São Paulo: Editora Unesp, 2012.
MACHADO, Roberto. Foucault, a Ciência e o Saber. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
TAYLOR, Dianna (org.). Michel Foucault: conceitos fundamentais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. 

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